Conto - MEU INVERNO PARTICULAR; PARTE 1.
Na verdade,
há exatos três meses eu não tinha paz em espírito, pensamento e em alma. Eram,
sem dúvida, os piores dias da minha vida.
Nunca
imaginei que uma rejeição pudesse causar tantos danos. Quando assistia a filmes
em que as pessoas eram abandonadas e entravam em um estado catatônico de
depressão, acreditava que era um exagero, pois era impossível alguém sentir
tanta dor. Ri sarcasticamente, porque raciocinando melhor, pareciam aquelas
incógnitas do destino, eu me encontrar na mesma situação a qual tanto julgava.
Poderia parecer impossível, mas era bem real e agora eu sabia disso.
Distraído em pensamentos, levei o café quente
à boca para obter alguma energia e então paralisei. Não pude acreditar no que
vi.Acreditando
ser uma ilusão, esfreguei os olhos na expectativa de que ela sumisse. Mas não
sumiu.
Lá estava
ela, do outro lado do parque. Estava sentada em um banco, com uma correia na
mão e o cachorro labrador ao seu lado parecia observar tudo atentamente. Como
era esperada a reação imediata de meu corpo em sua presença, meu coração deu
uma batida a menos. Reconheceria aquele chacoalhar dos seus cabelos
em qualquer lugar do mundo, mas para ter uma confirmação, olhei atentamente em
seu ombro e lá estava a sua famosa tatuagem de abelha.
Pensei em gritar,
mas no momento em que ia fazer, observei melhor a cena, meus pulmões se
fecharam e faltou-me o ar. Arregalei os olhos, pois percebi que ela havia
mentido.
Não, não, não! Ela não poderia ter mentido pra mim!
Minha mente
começou a trabalhar e começou a bombear imagens de nossos momentos juntos.
Comecei a lembrar do som de suas gargalhadas, de quando ela me contava seus
sonhos, quando ela me abraçava e eu sentia o seu coração pulsar forte contra
mim, mas acima de tudo, lembrei-me de quando ela me olhava, me enxergando
intimamente, como se pudesse ver cada pedaço de minha alma.Meus joelhos quase cederam ante a cena em minha
frente e quando percebi que iria cair, dei dois passos cambaleantes para trás.
Ela nunca mais me enxergaria daquela forma.
“Não seria a melhor forma de lhe comunicar isso,
mas agora que consegui o que queria, a última coisa que eu preciso é de um
empecilho, e você...”.
Levei a mão ao meu
bolso e esmaguei a carta que me fizera tão infeliz nos últimos três meses de
minha vida. Por quê? Eis o fato: A mulher do outro lado – mais precisamente a da
minha vida – não fazia ideia de que eu estava a observando na outra extremidade
do parque, embora ela estivesse olhando fixamente na minha direção. Ela estava
cega.
(CONTINUA...)
1 comentários
Palmas!!!!!
ResponderExcluirTocantins!!!!
Quero mais!!!!