Conto - MEU INVERNO PARTICULAR; PARTE 1.

Por 20:29 , , ,




    Eu estava cabisbaixo, andando no parque com o meu café. Estava apenas tentando pegar um pouco do seu calor para tentar me aquecer naquela manhã nublada de uma segunda-feira fria. Não havia dormido nada a noite, pois meus pensamentos não me deixavam em paz.
    Na verdade, há exatos três meses eu não tinha paz em espírito, pensamento e em alma. Eram, sem dúvida, os piores dias da minha vida.
    Nunca imaginei que uma rejeição pudesse causar tantos danos. Quando assistia a filmes em que as pessoas eram abandonadas e entravam em um estado catatônico de depressão, acreditava que era um exagero, pois era impossível alguém sentir tanta dor. Ri sarcasticamente, porque raciocinando melhor, pareciam aquelas incógnitas do destino, eu me encontrar na mesma situação a qual tanto julgava. Poderia parecer impossível, mas era bem real e agora eu sabia disso.  
    Distraído em pensamentos, levei o café quente à boca para obter alguma energia e então paralisei. Não pude acreditar no que vi.Acreditando ser uma ilusão, esfreguei os olhos na expectativa de que ela sumisse. Mas não sumiu.
    Lá estava ela, do outro lado do parque. Estava sentada em um banco, com uma correia na mão e o cachorro labrador ao seu lado parecia observar tudo atentamente. Como era esperada a reação imediata de meu corpo em sua presença, meu coração deu uma batida a menos. Reconheceria aquele chacoalhar dos seus cabelos em qualquer lugar do mundo, mas para ter uma confirmação, olhei atentamente em seu ombro e lá estava a sua famosa tatuagem de abelha.
    Pensei em gritar, mas no momento em que ia fazer, observei melhor a cena, meus pulmões se fecharam e faltou-me o ar. Arregalei os olhos, pois percebi que ela havia mentido.
    Não, não, não! Ela não poderia ter mentido pra mim!
    Minha mente começou a trabalhar e começou a bombear imagens de nossos momentos juntos. Comecei a lembrar do som de suas gargalhadas, de quando ela me contava seus sonhos, quando ela me abraçava e eu sentia o seu coração pulsar forte contra mim, mas acima de tudo, lembrei-me de quando ela me olhava, me enxergando intimamente, como se pudesse ver cada pedaço de minha alma.Meus joelhos quase cederam ante a cena em minha frente e quando percebi que iria cair, dei dois passos cambaleantes para trás. Ela nunca mais me enxergaria daquela forma.
    “Não seria a melhor forma de lhe comunicar isso, mas agora que consegui o que queria, a última coisa que eu preciso é de um empecilho, e você...”.
    Levei a mão ao meu bolso e esmaguei a carta que me fizera tão infeliz nos últimos três meses de minha vida. Por quê? Eis o fato: A mulher do outro lado – mais precisamente a da minha vida – não fazia ideia de que eu estava a observando na outra extremidade do parque, embora ela estivesse olhando fixamente na minha direção. Ela estava cega.

(CONTINUA...)

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