Conto - MEU INVERNO PARTICULAR; PARTE 2.

Por 22:12 , , ,


(CONTINUAÇÃO...)
    Ela havia mentido e como prova disso, ela estava sozinha. Tudo o que ela mais temia. Estava sozinha e chorando. Comecei a me perguntar onde estariam aqueles que se diziam seus amigos. Um sentimento de ódio se apossou de mim e coloquei as mãos sobre o peito sentindo uma dor descomunal.
    Seu problema de vista não foi resolvido e de acordo com os riscos da cirurgia, presumi que não teve sucesso, tampouco obteve o que tanto queria.  Confirmei isso apenas com um olhar, porque li o colete do cachorro que estava escrito “deficiente visual”.
    Uma lágrima caiu do meu rosto e então entendi, pois não fazia sentido ela me abandonar depois de fazermos tantos planos para depois da cirurgia e, sobretudo, não fazia sentido ela dizer que tinha tudo o que ela queria quando não me tinha.
    Tomei um choque ao perceber que ela se levantou – desajeitadamente – e deu de frente com uma pessoa no meio do caminho, deixando cair a sua bolsa e seu chá, sendo xingada por estar atrapalhando o trajeto de outros indivíduos.
    Ficou de quatro tateando o chão em busca de seus pertences e tentando não soltar a correia do cachorro que latia furiosamente.
    Aquela visão me encheu de ódio, pois eu sabia que nada poderia fazer para ajudá-la. O seu sonho não havia sido realizado, muito menos os outros.
    Com raiva joguei o café no chão, peguei a carta, abri e comecei a ler linha por linha.
    A cada palavra eu entendia que aquela carta não era escrita por ela. Supostamente seria uma carta minha direcionada a ela.
    Tomado por uma náusea violenta, guardei o meu tormento no bolso do casaco. Sentindo gotas de suor, limpei a testa com as costas da mão e chorei. Chorei porque ela havia mentido, chorei porque ela não havia conseguido, chorei porque ela não acreditou em mim quando disse que ficaria ao seu lado pro que der e vier.
    Solucei compulsivamente enquanto presenciava-a ali, tão sozinha, tão sem mim.
    Eu queria socar alguém, queria poder jogar minha raiva pra fora. Eu iria até ela e iria dizer o quanto ela havia me feito sofrer.
    Quando dei dos passos, refleti sobre a idiotice que eu iria fazer e fui me tocando de que eu pouco ligava para os três meses que eu passei me lamentando, me sentindo rejeitado, ignorado e sem valor. Nesse momento era como se isso tudo que eu passei fosse uma lembrança de outra vida. Na verdade poderia viver tudo de novo só para poder fazer o que farei agora.
    Inspirei fundo e tomado por outros sentimentos, automaticamente meus pés foram em sua direção, tomar posse do que era meu, cumprir minha palavra, ir atrás da minha felicidade. Porque não importava se ela não estava do jeito que ela queria, pra mim ela seria perfeita de qualquer jeito.

FIM

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