Conto - MEU INVERNO PARTICULAR; PARTE 2.
(CONTINUAÇÃO...) |
Ela havia
mentido e como prova disso, ela estava sozinha. Tudo o que ela mais temia.
Estava sozinha e chorando. Comecei a me perguntar onde estariam aqueles que se
diziam seus amigos. Um sentimento de ódio se apossou de mim e coloquei as mãos sobre
o peito sentindo uma dor descomunal.
Seu problema de vista
não foi resolvido e de acordo com os riscos da cirurgia, presumi que não teve
sucesso, tampouco obteve o que tanto queria.
Confirmei isso apenas com um olhar, porque li o colete do cachorro que
estava escrito “deficiente visual”.
Uma lágrima caiu do
meu rosto e então entendi, pois não fazia sentido ela me abandonar depois de
fazermos tantos planos para depois da cirurgia e, sobretudo, não fazia sentido
ela dizer que tinha tudo o que ela queria quando não me tinha.
Tomei um choque ao
perceber que ela se levantou – desajeitadamente – e deu de frente com uma
pessoa no meio do caminho, deixando cair a sua bolsa e seu chá, sendo xingada
por estar atrapalhando o trajeto de outros indivíduos.
Ficou de quatro
tateando o chão em busca de seus pertences e tentando não soltar a correia do
cachorro que latia furiosamente.
Aquela visão me encheu
de ódio, pois eu sabia que nada poderia fazer para ajudá-la. O seu sonho não
havia sido realizado, muito menos os outros.
Com raiva joguei o
café no chão, peguei a carta, abri e comecei a ler linha por linha.
A cada palavra eu
entendia que aquela carta não era escrita por ela. Supostamente seria uma carta
minha direcionada a ela.
Tomado por uma náusea
violenta, guardei o meu tormento no bolso do casaco. Sentindo gotas de suor, limpei
a testa com as costas da mão e chorei. Chorei porque ela havia mentido, chorei
porque ela não havia conseguido, chorei porque ela não acreditou em mim quando
disse que ficaria ao seu lado pro que der e vier.
Solucei
compulsivamente enquanto presenciava-a ali, tão sozinha, tão sem mim.
Eu queria socar
alguém, queria poder jogar minha raiva pra fora. Eu iria até ela e iria dizer o
quanto ela havia me feito sofrer.
Quando dei dos passos,
refleti sobre a idiotice que eu iria fazer e fui me tocando de que eu pouco
ligava para os três meses que eu passei me lamentando, me sentindo rejeitado,
ignorado e sem valor. Nesse momento era como se isso tudo que eu passei fosse
uma lembrança de outra vida. Na verdade poderia viver tudo de novo só para
poder fazer o que farei agora.
Inspirei fundo e
tomado por outros sentimentos, automaticamente meus pés foram em sua direção,
tomar posse do que era meu, cumprir minha palavra, ir atrás da minha
felicidade. Porque não importava se ela não estava do jeito que ela queria, pra
mim ela seria perfeita de qualquer jeito.
FIM
2 comentários
que lindo!
ResponderExcluirOhhh Mel, muito lindo mesmo <3 Saudades de ler suas histórias!
ResponderExcluir